quarta-feira, 27 de maio de 2020

Liberdade interior


Ser livre é um projeto que nunca termina. Nós nunca estamos totalmente libertos. A antropologia cristã nos ensina que a nossa liberdade interior precisa ser treinada diariamente, porque é um dom. Um dom que pede uma tarefa. Deus nos deu a liberdade como um dom. Todos nós recebemos. Agora ser livre é outra coisa. É como você ter uma planta que precisa crescer mediante o cuidado que temos com ela. Quando você rega. Quando você aduba. Para que todo aquele potencial que há na semente se desenvolva e aquela semente possa tornar-se a árvore que potencialmente existe ali dentro.

A mesma coisa é a liberdade. Poder dizer: Hoje livre estou. É você assumir que você está em um processo de libertação da própria liberdade. Deus está presente conosco o tempo todo. Nós somos responsáveis por aceitar ou não essa presença na nossa vida. Deus não nos invade. Deus nos dá todas as graças mas ele não força a gente a recebe-las. A diferença de um ser humano para todos os outros é justamente a coragem de acolher a graça de Deus. Colocar pra trabalhar tudo aquilo que Ele nos enviou como um dom. É você permitir que a semente avance no seu crescimento. É você regar diariamente essa semente recebida, esse dom recebido para que Ele se torne um fruto.

A liberdade interior talvez seja o valor máximo que um ser humano poderia experimentar. Ser livre interiormente facilita tudo. Até mesmo nossa capacidade de administrar o sofrimento. Muitas vezes nós sofremos porque somos apegados. Nós não somos livres. Há o apego a objetos, emprego, sucesso, pessoas... Assim há uma privação de viver a liberdade pessoal. Aí começa a sofrer.

O ciúme é um apego desordenado a uma pessoa, a uma situação, a um objeto. Nós nos apegamos a situações e até a imagem que temos. Tem gente que não aceita o processo do envelhecimento porque tem um apego a imagem que tinha na juventude. Falta de liberdade interior nos faz ficar cada vez mais apegados.

A liberdade espiritual é uma dádiva do ponto de vista espiritual ou afetivo que o ser humano pode experimentar. A partir do momento que eu sou um homem livre, eu começo a me interpretar de um jeito certo. Eu começo a olhar pra mim com devido respeito, com a devida reverência. Começo a olhar para o outro também permitindo essa liberdade. Porque quem é livre faz questão de provocar a liberdade em quem encontra.

Apesar de todas as restrições que estão ao nosso redor, a vida pode ser bonita, pode valer a pena, pode ser interessante. Quando você permite que a graça de Deus lhe alcance com todas as suas possibilidades, com todas as suas consequências. Você começa a adentrar um território de mais leveza. Você começa a deixar pra trás os pesos que às vezes fazemos questão de levar. Insistimos em levar fardos que não acrescentam nossa vida em nada.

Não pode ser livre aquele que se amarra em fardos. Não pode descobrir a graça da liberdade interior aquele que se apega a situações, a pessoas, a coisas...  É por isso que o convite de Jesus a todos aqueles que se aproximam é para que você venha e abra mão de todos os seus contextos para descobrir o contexto dEle. A partir do momento que você se apresentar a Ele, Ele fará uma grande obra na sua vida.

Até quando alguém morre na nossa vida, se a gente não se liberta para compreender a perda , não superamos o luto nunca. Ficamos amarrados a dor por 10, 20, 30 anos... 

Quando nós permitimos que Deus haja na nossa vida. Quando ele nos ajuda a viver o desapego, até mesmo daqueles que nós amamos, para permitir partir. Ou para restabelecer aquela memória de um jeito novo. Precisamos entender que todo mundo vai passar pela dor da perda de alguém que amamos e a vida de quem ficou não pode terminar na hora em que o outro morre. Porque senão não se faz justiça a vida que você ainda tem .

A liberdade interior também ajuda a dar adeus, a perder. E quando você perde muito na vida, mas não perde a confiança em Deus, a vontade de viver, glorifica a Deus em todos os momentos. Você tem o direito de dizer que é livre.

" É para sermos verdadeiramente livres que Cristo nos libertou. Permanecei pois firmes e não vos deixei sujeitar de novo ao jugo da escravidão"
Gálatas 5.1

O processo não termina no momento em que ficamos livres. Ao ser liberto, ao dar um passo em direção a liberdade interior, é preciso zelar para que as situações não venham nos oprimir novamente. Porque todas as situações que nos escravizam continuam. Para chegar ao contexto dessa libertação, teremos que lutar diariamente e buscar os recursos que a vida pode nos oferecer para que exista condição de chegar a superação da perda, do luto...

O que nos liberta? Quem pode nos tirar do sofrimento?  
São as nossas convicções. Nossa fé. É o que a gente pensa que nos liberta. É a palavra que ilumina a nossa consciência que é capaz de nos libertar. Se a libertação ainda não chegou a sua vida, busque a Deus, leia a Bíblia. Não seja mais escravo de si mesmo, seja por ciúmes, mesquinharias, apego... Seja iluminado pelo pensamento que liberta, que é a palavra de Cristo. Transforme o seu jeito de ser, de viver, de interpretar o mundo, de tratar as pessoas.

É isso que nos liberta. Nós vivemos em um tempo de tantas escravidões. Do preconceito, do desrespeito, da crueldade. Tudo porque falta uma mentalidade que nos liberte. Que nos dê condições de olhar para o outro com um pouco mais de amor. De ter respeito pelo outro. De não tratar o outro com descrédito. Falta libertação da nossa mente. Abandonar a escravidão dos nossos preconceitos. Das nossas arrogâncias e buscar a mentalidade de Jesus em nós.

Jesus teve problema com os religiosos do seu tempo, porque estes estavam escravizados pela lei, que lhes dava o direito de desprezar pessoas, de menosprezar pessoas. Não é possível admitir um discurso religioso que lhe dá o direito de desprezar o irmão por mais errado que ele esteja vivendo.

A força do Evangelho, a libertação que ele provoca em nós, é justamente para que tenhamos condições de superar as nossas mazelas, ir ao encontro dos que precisam de nós e estabelecer comunhão com eles ainda que eles continuem diferente de nós. Cada um assume a regra que escolheu para viver.

Muitas vezes temos conflitos com os outros porque estamos muito apegados a nós mesmos. Nós não nos trabalhamos para liberdade. Porque a partir do momento que eu levo a sério a liberdade que Jesus provoca em mim eu vou fazer de tudo para que o outro seja livre também. Mas de maneira amorosa, de maneira solidária. Eu não vou impor a ele meus fardos. Vou fazer de tudo para lidar bem com minhas transformações. Assim me permitindo perder com mais sabedoria e abrir os olhos para os ganhos também. 

A liberdade interior vai colocando você em paz com a vida. Você vai ficando mais leve para conviver. Você vai percebendo o que realmente importa, onde é que você tem que por o seu empenho.

É na cabeça que tudo acontece. Quando Deus entra na minha mentalidade. Quando Deus modifica o meu jeito de olhar para mim, meu jeito de olhar para o mundo, Ele vai modificar naturalmente meu jeito de olhar para aqueles que estão ao meu lado. Ele vai modificar o jeito como olho para minhas restrições , para minhas perdas. Alcançaremos a paz apesar de tantas dificuldades e poderemos sorrir e dizer :
A vida está valendo a pena. Porque Deus está me ajudando a fazer valer a pena.

Pe Fábio de Melo

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